segunda-feira, 12 de maio de 2014

UM ASSALTO. UMA LIÇÃO.

A violência bateu à porta. Durante a comemoração do dia das mães entre familiares e amigos em São Luís, o clima festivo foi abruptamente cortado com a chegada de um carro estranho que parou em frente à residência. Do veículo desceram três homens com pistola em punho e anunciaram o assalto. Um quarto aguardava no carro.

Minha filha de quatro anos e eu estávamos na calçada. Os marginais entraram na casa enquanto um dava cobertura do lado de fora e me observava com atenção. Ele nada falou, e nem precisava... A situação era surreal. Explosiva. Qualquer movimento brusco e uma tragédia poderia acontecer.

Minha filha brincava ao meu lado e não percebeu o perigo da situação. Imediatamente eu a posicionei atrás de mim. Naquele instante, nada mais importava. Virei seu escudo, seu anteparo, sua muralha, sua fortaleza. A morte não me assustava, o que me assustava no momento era a possibilidade de ter que viver sem um filho.

Depois de um breve momento que pareceu uma eternidade, o marginal que me observava também entrou na residência e todos correram para o carro carregando alguns pertences roubados e fugiram em disparada. Minha atenção imediatamente se voltou aos que estavam dentro da casa, incluindo minha esposa e meu filho de dois aninhos.

Todos estavam bem, mas emocionalmente abalados. O ambiente foi de completo terror, com gritos, ameaças e muitas crianças chorando. Aquela ação não levou apenas bens materiais, levou a nossa sensação de segurança. O sentimento de impotência é indescritível. Naquele momento, ninguém era senhor do seu destino. Estávamos à mercê de mãos armadas. O amanhã era apenas uma possibilidade, não uma certeza e talvez nunca mais seja.

Meus filhos, em sua ingenuidade infantil, mantinham o mesmo sorriso inocente no rosto, e isso me tranquilizou. Aquele episódio poderia não ser um trauma em suas vidas. Pedi para Lívia disfarçar o nervosismo na frente deles e fomos para casa para digerirmos o que aconteceu. Para lambermos as feridas. Naquela noite, o sono foi escasso e os sonhos desapareceram.

Em uma situação com risco de morte, tudo fica muito claro. O que é significante salta aos olhos. Dinheiro, propriedades, vaidade, política e outras demandas que povoam nossa vida perdem a importância e você percebe que o essencial são as pessoas: os filhos, a esposa, família e amigos. Elas são insubstituíveis e todo o resto é descartável, supérfluo.

A vida é breve e às vezes não percebemos isso. Não existem garantias. Em instantes, tudo pode mudar. A velhice pode não chegar. O novo dia pode não nascer. Nossas certezas se provam frágeis. Nossas prioridades, mesquinhas. No dia das mães me roubaram a segurança, mas me deixaram uma lição de vida.

Dr. Ernani Maia
(Cirurgião-Dentista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...