quinta-feira, 19 de setembro de 2013

CHARLES BACELLAR: a quem beneficiaria seu julgamento sumário?

O mundo hoje está muito rápido. As fronteiras diminuíram. Podemos viajar de um continente a outro em poucas horas. Tomamos conhecimento de acontecimentos mundiais quase que instantaneamente e falamos com pessoas distantes na velocidade do som.

Tal imediatismo tornou as pessoas impacientes. Junto com essa impaciência, vem a imprudência e a irresponsabilidade.  Além do imediatismo da informação, algumas pessoas se precipitam no imediatismo de julgamento. Invertem o jargão do direito. Fazem campanha para o: “todos são culpados até que provem sua inocência”.

Li um artigo no blog do Neto Ferreira, que deveria ser a respeito da liberdade de imprensa nos corredores do HAPA, mas que no seu bojo, queria apenas a execração do Secretário de Saúde, Charles Bacellar. De maneira imperiosa e categórica, o blogueiro condena o Secretário por erro médico e o taxa de mutilador. O “Dr.” Neto Ferreira foi jurado, juiz e carrasco.

Também trabalho na área de saúde. Faço cirurgias e sei da complexidade do meio. O sucesso de um tratamento depende do profissional, da técnica e equipamentos utilizados e também do paciente. Isso mesmo, o paciente também é responsável pelo sucesso ou fracasso do seu tratamento. Além disso, ainda existem complicações inesperadas que podem acontecer, como é o caso de reações alérgicas, aparecimento de quelóides (reação cicatricial exagerada), etc...

Em conversas anteriores com Dr. Charles Bacellar, ele havia relatado que foi contatado pela paciente em questão para corrigir um tratamento anterior e que ela fez uso, por conta própria, de um produto cosmético que acabou por atrasar e complicar a cicatrização local. O processo movido pela paciente, depois de analisado por uma junta médica, foi arquivado no CRM (Conselho Regional de Medicina).

Mas não interessa ao blogueiro ou a quem encomendou a matéria, o desenrolar do caso. Meias verdades conferem credibilidade para se contar uma mentira inteira. O que interessa, é que depois do julgamento sumário pela opinião pública, o profissional fique desmoralizado e perca sua clientela. Interessa que toda sua trajetória profissional seja medida por um único caso.

Já discordei algumas vezes de Charles Bacellar, mas sou completamente solidário a ele neste episódio. Sei da sua competência profissional e também já fui seu paciente. Se o caso fosse comprovadamente de erro médico, ele ainda não desmereceria sua carreira. Errar é humano. Médicos são humanos, não deuses. Além disso, a reparação do erro pode ser sempre alcançada através de novas cirurgias ou compensação financeira.

A matéria do blogueiro não trata sobre liberdade de imprensa (O promotor Douglas Nojosa já se pronunciou a respeito e nenhuma linha foi escrita criticando seu parecer). Também não se trata de saúde, e sim de política. Será que vale tudo? O inconformismo de alguns políticos vale a destruição da carreira de um profissional? Quem se beneficiaria com isso?

A motivação também pode ser por um sentimento menos nobre, como a inveja. Tenho observado com grande tristeza a mudança dos valores sociais. A educação formal e o sucesso profissional são vistos por muitos como uma ofensa, um crime. É como se aquela pessoa que dedicou sua vida aos estudos e goza, através do trabalho, de boa situação financeira, lembrasse aos incompetentes da política e parasitas sociais tudo o que poderiam ter sido e não foram.

Dr. Ernani Maia
(Cirurgião-Dentista)

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